terça-feira, 14 de julho de 2015

1462- ENTREVISTA COM O GM SANDRO MARECO, CAMPEÃO CONTINENTAL DAS AMÉRICAS DE 2015

Entrevistei o GM Sandro Mareco
1- Conte como foi a sua evolução enxadrística desde principiante. O que estudou até a força de MI,
depois de MI. E com quem treinou, quem te ajudou.
Eu comecei a jogar xadrez na escola, joguei dos 10 aos 11 anos. Meu professor era um arbitro internacional chileno que se chama Hugo Guzman. Depois fiquei dois anos sem jogar, quando comecei a frequentar um clube aos 13 anos.
No clube eu fui treinando um pouco mas quando eu tinha 15 anos  frequentei umas aulas em grupo com Oscar Panno e isso durou uns 6 meses mais ou menos.
Fiz umas aulas isoladas, imagino que não mais de 5 com Pablo Ricardi mas ele também me deu varias dicas para ir treinando.
Eu normalmente trabalhava resolvendo exercícios de tática e os livros que eu penso que foram importantes para mim nessa época: o Tratado de Roberto Grau, principalmente os volumes
3 e 4, Los Grandes Maestros del Tablero de Réti e Mastering Endgames de Shereshevsky .
Eu terminei a escola com 17 anos e tinha 2187 de rating mais ou menos e decidi me focar no xadrez. Fui treinando com vários livros de Dvoretsky e como sempre resolvendo exercícios de tática e revisando minhas posições no computador. Via muitas partidas de muitos jogadores nas posicões que eu jogava para entender ideias e adicionar novos truques.
Livros que para mim foram importantes nesse momento: Entrenamiento de Elite 1 e 2 e também Partidas Selectas de Botvinnik.
Eu dedicava bom tempo a ver partidas de jogadores atuais e também torneios em geral, gosto bastante de ver partidas em geral mesmo que sejam posições que eu não jogo.
Esse ano que era o 2005 eu terminei com 2290 de elo e 2 normas de MI porque fiz no continental que era norma dupla.
No ano 2006 eu continuei treinando, resolvendo problemas sempre em geral e algo que eu considero importante: tentar ver os defeitos de nosso jogo, ter autocritica. Esse ano fui campeão argentino sub 20 e no mundial na Armênia fiz norma de MI, sendo a minha definitiva.
Algo que eu percebi bem importante de ter jogado com enxadristas fortes, principalmente no mundial sub 20, é que eu era fraco no jogo posicional e tentei melhorar esse e o ano seguinte: pensar bem na localização das pecas a longo prazo. Em 2006 terminei com 2355 de elo.
No ano 2007 eu continuei treinando firme  e consegui ganhar o sul americano sub 20, obtendo titulo de MI diretamente mas eu já tinha as normas também , mas com esse resultado passei os 2400 
esse ano terminei com 2450 de elo mais ou menos .
No ano 2008 continuei treinando firme e sempre focado na autocritica e tentando evoluir. Fiz norma de GM no Magistral Covas.
No ano de 2009 já estava com mais de 2500, estável mas ainda faltava uma norma de GM. Esse ano terminei com 2525 mais ou menos de elo.
Em 2010 eu fiz minha norma de Grande Mestre definitiva e esse ano acho que consegui passar os 2600, não me lembro exatamente.
O trabalho continuou parecido, revisando muitas posições e ideias com o computador, resolvendo problemas e um livro que eu fui vendo mas que sinceramente não terminei mas penso em terminar é o Endgame Manual de Dvoretsky .
2- E depois de GM, como é seu treinamento? Com quem está treinando?
Como GM, meu treinamento é parecido mas resolvo bastantes problemas de Kasparian e Benko e problemas difíceis em geral. Também fui  treinar com Ulf Andersson na Suécia onde tentei trabalhar
bastante no meu jogo posicional e também finais porque penso que Ulf é excelente nisso.
Como sempre continuo vendo muitas partidas em geral e muitas de minhas posições  e também o trabalho com o engine nas posições, testando ideias diferentes para ver se são possíveis.
3- Quais seus objetivos (conquistas de campeonatos) e suas metas (atingir até quanto de rating) na carreira?
Eu não coloquei objetivos concretos mas este ano espero pelo menos conseguir manter os 2600 de rating e se tudo sair bem quero tentar me dedicar só a jogar no ano próximo porque quero ver se posso evoluir de onde eu estou , ainda nao sei se e possivel isso mas quero tentar.
4- Você é reconhecido por muitos como um excelente professor e treinador. Quais as principais virtudes que um professor e treinador de xadrez deve ter? Você já teve que desenvolver uma pedagogia específica para algum aluno? Pode citar algum caso onde você tenha aprendido com o aluno?
Em geral eu penso que algo bem importante como treinador e tentar ver onde estão os defeitos dos alunos porque podem ter um rating parecido e ter problemas claramente diferentes, então é bem importante avaliar bem o jogo do aluno para fazer o trabalho melhor. Em geral, com mais experiência eu penso que fui melhorando em varias coisas como treinador porque também e importante pensar qual é o melhor jeito de explicar as coisas, porque algo típico é esquecer os problemas de quando éramos mais fracos, então é importante sempre pensar como é melhor explicar.
Não me lembro de algo especifico mas também considero bem importante a parte psicológica dos alunos como um quesito importante para a evolução. É necessário lutar as partidas, não desistir rapidamente porque muitas das partidas em que ficamos inferior se lutamos com os melhores lances é possível virar o resultado.
Com os alunos aprendi muito porque muitas vezes reviso posições para eles ou também me perguntam coisas que às vezes não sei. É preciso ver melhor para entender o porquê e o que seria o melhor para fazer em diferentes posições.
5- Como você vê o desenvolvimento enxadrístico na América do Sul ? em termos de renovação de talentos, algum país específico tem chamado a sua atenção?
Eu penso que um país que conseguiu evoluir muito foi o Peru nos últimos tempos e em geral penso que muitas vezes os talentos surgem em diferentes países de América do Sul mas é importante apoiá-los porque o xadrez é bastante difícil, principalmente na parte econômica, então com bastante apoio eu penso que é possível que muitos jogadores da América do Sul consigam lutar cada vez melhor contra os melhores do mundo.
6- Em termos gerais, o que você recomendaria de estudos e treinos para: a) iniciante até 2000 rating FIDE; b) 2000 a 2300; c) mais 2300 ? 
Eu penso que algo importante em todos os níveis de jogador é resolver problemas mas não os que sejam fáceis. Tem que ser problemas  exigentes que não sejam para resolver em 1 ou 2 minutos.
Considero um tempo normal uns 20 ou 25 minutos por problema. Isso penso que serve em todos os ratings.
Em geral com menos de 2000 de rating é importante aprender os motivos posicionais básicos com as ideias em geral das posições que vamos jogar mas não focar muito na abertura em geral. É importante entender as ideias gerais das aberturas e não ficar aprendendo de cor os lances em geral. Considero que com menos de 2000 de rating a maioria das partidas não se definem pela abertura.
Com mais de 2000 o trabalho continua sendo o mesmo mas pode aprofundar um pouco mais nas aberturas, considerando bem as estruturas e vendo bastantes partidas das posições que vamos jogar. É importante estudar finais básicos, tem um livro que considero bom que se chama Los 100 finales que Hay que Saber. Penso que existem outros parecidos.
Com mais de 2300 é possível focar mais nas aberturas e penso usar o engine para analisar as posições que vamos jogar tentando procurar ideias novas ou diferentes, tentando aprofundar bastante nisso.
Algo sempre importante em todo nível de jogo é analisar nossas partidas para entender bem no que estamos falhando, considero isso um quesito bem importante.